quinta-feira, 1 de março de 2012

Tabu canino: o mito do preto e branco by Danila

Tabu canino: o mito do preto e branco
Quando eu era bem pequena, digo de idade porque de tamanho a coisa não mudou tanto assim, eu passava as férias na casa da minha querida avó Xomé no interior de São Paulo. Assim como toda cidade pequena típica do interior, em que a gente entra e vê a placa “Seja bem vindo” e atravessa a rua e enxerga a placa “Volte Sempre”, minha cidade tinha um famoso e único Clube.
E como era delicioso passar todas as férias subindo em árvore e aprontando macaquices de criança no Clube da Cidade. Claro que a piscina era o item mais esperado de todas as férias. Rolava uma competição séria entre mim, minha irmã e uma amiga pra ver quem conseguia ter mais fôlego embaixo d`água. Só que para conseguir mais fôlego, eu confesso que tinha um segredinho passado por minha avó e que eu seguia religiosamente: era necessário sair com metade do corpo da piscina para que meu umbigo respirasse. Hein? Isso mesmo! Aí sim, com o umbigo fora d’água eu retomava o fôlego e ia pra debaixo da água. Obviamente que anos mais tarde (não, não foi ontem) me dei conta de que meu desempenho realmente não melhorava fazendo esse ritual do umbigo, digamos assim. Isso nada mais era do que uma crença que eu passei a infância acreditando. Mas e daí, eu era só uma criança inocente né não?
E o mundo canino é recheado dessas coisas malucas também, crenças e mitos que simplesmente acreditamos,sem explicação alguma. Alguns deles já vêm embutidos com um cachorro. Uma bem comum é a afirmação de que CÃES ENXERGAM TUDO EM PRETO E BRANCO, certo? Errado. Assim como o mito do meu umbigo pra pegar fôlego, não tem nada a ver pensarmos que eles enxergam o mundo resumido em preto e branco, como uma tela do filme ganhador do Oscar esse ano “O Artista”.
 A origem desse mito não é muito certa, mas muito provavelmente tinha a ver com o fato de os cientistas na época terem quase nenhum conhecimento sobre os olhos dos cães, e nem mesmo sobre sobre os nossos, e as funções dos chamados cones dentro dos nossos olhos.Vamos lá então entender um pouco mais sobre o mundo colorido dos cães. Os cães na verdade enxergam o mundo de maneira colorida, mas não do mesmo jeito que nós percebemos as cores.
Existem dois tipos de células no olho humano que nos fazem enxergar: cones e bastonetes. Os bastonetes são células que precisam de pouca luz para serem sensibilizadas e não são capazes de formar imagens bem nítidas e coloridas. Em outras palavras, são esses bastonetes que nos permitem enxergar um pouco na penumbra. Já os cones são o inverso. Precisam de bastante luz e conseguem gerar imagens nítidas e coloridas. Esses cones aí se apresentam em nosso olho em 03 tipos: azuis, vermelhos e verdes. É justamente esses cones que fazem a gente captar essas três cores, e assim, as demais são variações destas. Aposto que você lembrou agora daquela aula de Educação Artística que você cabulava na escola.
Muito bem, agora voltando pros fofoléticos e caninos. Os cães, por sua vez, possuem pigmentos também nessas células cônicas. Mas ao invés de três (visão tricomática) eles possuem dois pigmentos, o azul e o vermelho (visão dicromática), o que obviamente vai reduzir o espectro de cores que eles são capazes de enxergar.
Como os cães não têm o pigmento verde como nós, eles se confundem na hora de diferenciar o verde do vermelho, como por exemplo em um sinal de trânsito. Aliás eu adorei esse exemplo do semáforo. Se tivéssemos a visão dos cães olharíamos para o semáforo em pleno cruzamento e simplesmente não veríamos diferença alguma entre as cores clássicas vermelha, amarela e verde. Os cães não diferenciam essas cores umas das outras pela falta de pigmento verde, lembra? No mundo canino o farol faria sentido se modificássemos duas de suas cores: uma para o violeta e outra para o azul, tendo assim as cores: verde, violeta e azul, uma vez que eles enxergam tons de verde e poderíamos manter essa tonalidade.
Jogar uma bolinha azul ou vermelha no gramado verde? Muito provável seu cão enxergará melhor a bolinha azul, uma vez que eles não conseguem diferenciar bem o vermelho do verde, assim como pessoas com daltonismo que são incapazes de diferenciar algumas cores, como o verde do vermelho por exemplo.
Além disso, os cães têm uma habilidade imensa para diferenciar tonalidades de cinza, coisa que nós humanos não percebemos assim tão facilmente. Numa penumbra eles se saem bem melhores do que nós, porque além de terem percepção mais aguçada para essa cor, possuem mais sensibilidade para a luz. Aquelas nossas células bastonetes que falei acima limitam essa nossa visão no escuro, com pouca luminosidade. Aí nesse quesito é ponto certo para os cães.
Agora você já sabe, o mundo dos cães não se resume em uma imagem de um filme do Charlin Chaplin e colocar o umbigo pra fora da piscina pra tomar fôlego é coisa do passado!
Referências

JAK. Visão nos Cães.Disponível em <http://bit.ly/wRmg0a>

MILLER, Paul E. Vision in Animals - What do Dogs and Cats See? Disponível em <http://bit.ly/xJcGhE>

PORTO, Darton. Como o olho enxerga as cores. Disponível em < http://bit.ly/ysCMvs>

ROSSI, Alexandre. Como enxergam os cães - Parte 1.  Disponível em <http://www.caocidadao.com.br/artigos_caes.php?id=76>

STREGOWSKI, Jenna. 9 of the Biggest Dog Myths. Disponível em <http://bit.ly/rkFs9B>

VASCONCELOS, Yuri. É verdade que cães e gatos enxergam em preto-e-branco? Disponível <http://bit.ly/jvWdLc>

http://pt.wikipedia.org/wiki/Daltonismo